Notícias

14-07-2016

Projeto recifense ensina música a jovens surdos

A história de Alexsson Lima, 22 anos, poderia ser considerada comum para um jovem estudante de música, que há dez meses, por dois dias na semana, sai de casa no bairro de Água Fria, Zona Norte do Recife, para ter aulas de trombone. Poderia, se Alexsson não fosse surdo desde o nascimento. A deficiência, no entanto, não foi empecilho para realizar o sonho de tocar um instrumento musical. Nas tardes das terças e quintas, em um apartamento no 9º andar do Edifício Almare, no bairro de Santo Antônio, Centro do Recife, ele e mais nove jovens surdos, além de dois deficientes visuais, participam de um projeto de educação musical do Instituto Inclusivo Sons do Silêncio, onde aprendem a “escutar” através das vibrações sonoras.

O músico e pedagogo Carlos Alberto Alves é o mentor do programa. Foi na universidade que a ideia do instituto nasceu, na aliança das duas paixões. “Comecei esse projeto por conta do meu trabalho de conclusão de curso. Quando estava no curso de libras, meu professor, que é surdo, se emocionou depois que eu toquei uma música no saxofone. Estudando o tema, descobri que indivíduos com deficiências auditivas sentem a música através de vibrações e que elas são tão reais quanto a seus equivalentes sonoros, pois são processadas na mesma região do cérebro.”

Contrariando teóricos, que dizem serem os surdos capazes de só tocar instrumentos percussivos, Carlos passou a ensinar saxofone ao professor. A experiência o empolgou a levar o projeto além da academia. Em agosto do ano passado, surgiu o Instituto Inclusivo Sons do Silêncio, que funciona no espaço emprestado pelo Colégio Marcelino Champagnat, na Avenida Guararapes.

Os 12 jovens se aventuram em aulas de saxofone, trombone, trompete, teclado e flauta transversal. Para ensinar, Carlos criou uma metodologia intitulada Casa Inclusiva. O método é inspirado na técnica Tadoma, em que surdos e cegos colocam o dedo polegar perto da boca ou no pescoço de quem está falando e conseguem saber o que está sendo tocado através da vibração. “Aproveitamos a ressonância dos instrumentos e cada nota da partitura é lida e traduzida em uma vibração correspondente”, explica o professor.

O projeto transformou a vida de Alexsson, que tem a audição comprometida em 70% no ouvido direito e 90% no esquerdo. Em libras, ele conta que sempre teve vontade de aprender a tocar trombone, mas as pessoas não acreditavam ser possível. Orgulhoso por realizar seu sonho, questiona quem duvida da música. Também surdo, Edson Alves, 21, é aprendiz de teclado e relembra que a primeira barreira a vencer foi o próprio preconceito. Ele pensava que surdos não podiam fazer música. Sua meta é tocar igual a uma pessoa ouvinte.

“Nosso objetivo é montar a primeira banda filarmônica inclusiva no Estado, sem limitação por instrumento. Seja surdo cego, cadeirante, ouvinte ou tenha síndrome de Down, nossa intenção é de que olhem para eles e não consigam distingui-los pela deficiência e sim por suas habilidades”, frisa o professor, mostrando com os alunos que a música nasce no coração. Hoje, a maior necessidade é uma sede fixa. 

APOIO

O professor Carlos busca parceiros. O projeto foi um dos 50 incubados pelo Porto Social no mês passado. A organização tem como objetivo impulsionar ONGs e negócios sociais no Recife, auxiliando em áreas como gestão, comunicação e marketing, empreendedorismo e captção de recursos. Apesar do apoio, o Instituto Inclusivo Sons do Silêncio funciona com recursos próprios e com instrumentos doados, o que nem sempre é suficiente. O apartamento onde o projeto funciona será vendido neste ano. O professor Carlos Alberto Alves busca parceiros e quem estiver interessado em apoiar pode entrar em contato pelo telefone (81) 98756-7875 ou pelo e-mail carlinhosluasax@hotmail.com.

Fonte: Jornal do Commercio



Voltar