Além das barreiras físicas no trajeto, a pessoa com deficiência enfrenta ainda falta de acessibilidade para apreciar um evento cultural. Interpretação de libras e audiodescrição não são oferecidas em todos os eventos realizados no Estado. Ações para garantia da acessibilidade cultural foram debatidas na Frente Parlamentar em Defesa da Pessoa com Deficiência na última quinta (8), com a participação de produtores, gestores e representantes da sociedade civil.
Coordenadora da Frente, a deputada Terezinha Nunes (PSDB) pontuou que “não faltam leis, falta atitude”. “A posição do colegiado hoje foi de debater, esclarecer e ajudar na promoção de linguagens que atendam a todos nos eventos culturais. Foi importante juntar os envolvidos para promover um diálogo com o objetivo de facilitar o cumprimento da lei”, declarou. A relatora da frente, Laura Gomes (PSB), também se posicionou nesse sentido: “Temos a lei, agora precisamos mudar as atitudes”. Durante a reunião, dificuldades e ideias foram expostas pelos participantes.
Chamando atenção para o número de pessoas com deficiência no Brasil – quase um terço da população -, a produtora Carla Bensoussan, da Agência Lead, defendeu que o custo não pode impedir a acessibilidade. “Caro é um evento em que uma pessoa sai frustrada porque não pode usufruir”. Também contou que algumas empresas que a contratam têm a preocupação de cumprir a lei, e que é preciso ampliar esse entendimento.
Assim como Carla, a também produtora, Ana Lins, da Carvalheira, declarou que a empresa está disposta a promover eventos acessíveis. “A questão da acessibilidade também é vista como prioritária para nós. Hoje, ouvi várias ideias que vou levar para a Carvalheira e debatermos como colocar em prática”, afirmou.
Gerente da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Márcia Chamixaes anunciou a compra de equipamento de audiodescrição para audiovisual. Também do órgão, André Brasileiro elencou ações para a promoção da acessibilidade que têm sido implementadas na cultura em Pernambuco, mas avaliou que “ainda há muito a ser feito”. Como exemplos de eventos realizados sob essa perspectiva, citou o Festival de Inverno de Garanhuns e a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém.
A cantora Marília Mendonça narrou as dificuldades que tem em relação à falta de acessibilidade em espaços culturais e eventos. Sobre a Paixão de Cristo, por exemplo, ela comentou que “só tem um dia e um horário de apresentação específico para pessoas com deficiência visual”. “Quando fui, há três anos, não pude escolher o horário mais conveniente”, disse. A cantora defendeu, ainda, que haja uma ação mais inclusiva nesses eventos. “Quando destinam apresentações específicas para pessoas com deficiência, muitas vezes, separa-se famílias”, pontuou.
Produtor do Coquetel Molotov, Jamerson Lima lamentou o fato de o festival realizado no ano passado, no Recife, não ter atendido a todos os requisitos de acessibilidade. “Vim hoje para entender como podemos trabalhar de forma mais efetiva para receber todos nos nossos eventos”, declarou. “Não porque a lei obriga, mas porque concordamos que a sociedade precisa parar de ignorar as pessoas com deficiência”, completou.
Audiodescritora, Patrícia Pordeus ponderou que “a falta de público com deficiência nos eventos, colocada como justificativa para o não investimento em ferramentas inclusivas, é reflexo da falta de acessibilidade”. “Não é necessário que o público esteja lá para se garantir. É preciso estar preparado para recebê-lo”, frisou. Já o professor de libras da Universidade de Pernambuco (UPE), Luiz Albérico Falcão criticou a escassez de formação no idioma no Estado e pontuou, ainda, que é preciso investir no ensino de libras já nas escolas.
O professor também reprovou a gestão de saúde estadual, que, na sua avaliação, deveria realizar os exames necessários para detecção de deficiências auditivas e encaminhar a família para o aprendizado das libras. Mencionou, ainda, o seu canal no Youtube para aprendizado no idioma: Libras Pernambuco.
Do Núcleo Educativo do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), Gabriela Severien destacou os obstáculos que a arquitetura de prédios antigos pode representar para a acessibilidade. “Um edifício do século 17 é lindo, mas precisa estar no século 21, e para isso é necessário adaptá-lo”, argumentou. “Com a inclusão de uma rampa ou elevador, nem sempre vai ficar bonito, mas a prioridade deve ser a eficiência”. José Diniz, da Associação Pernambucana de Cegos, e a defensora pública do Estado Leda Pessoa também participaram da reunião. Ela vai representar o órgão nos próximos encontros.
Fonte: Informe PE
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